o som da alma

1) O som é a presença integral e manifesta do sagrado.
2) Torne-se quem você nasceu para ser, torne-se músico.
3) A música abre o céu (Baudelaire).
4) Play is pray.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O som do vinil - Clube da esquina 2 parte 1

Pat Metheny & Toninho Horta!! - At Pat Metheny's apartment in Rio de Jan...



Em determinado momento Pat Metheny declara que Toniho Horta é seu compositor favorito, seu guitarrista favorito e seu amigo. Somzeira essa do Toninho!

sábado, 4 de dezembro de 2010

PAT METHENY & MIKE GOODRICK - ( MEDITATION )


Mike Goodrick além de excelente guitarrista é um grande didata do instrumento, seu livro Advancing Guitarrist é um clássico, usado tb por baixistas e outros instrumentistas.
Aqui temos um exemplo da excelência da música do Tom Jobim.

Yuri Popoff


Viva o Clube da Esquina !

David Minnieweather ~ luthier and bassist (8 String Bass)


Para divulgar a somzeira do baixo de oito cordas, quatro cordas duplas. Aqui no Brasil é usado pelo grande Yuri Popoff.

Yves Carbonne Live at Noe Valley Ministry -1 of 1


Yves Carbonne tocando seu baixo de possivelmente 11 cordas. Visitem www.yvescarbonne.com
Ele criou um instrumento com a afinação uma oitava abaixo do contrabaixo, chamando-o de sub bass. Somzeira, uma ode ao infinito do possível.

Grzegorz Kosiński - Frosty Acres (Jean Baudin cover)


Baixo de sete cordas, técnica de two hands, tocando uma música de Jean Baudin. Visitem www.myspace.com/bassgk

Carinhoso


O contrabaixo contemporâneo é um instrumento completo, solista, harmonizador, versátil, podendo tocar qualquer gênero musical, tecnicamente em evolução, com as possibilidades do tapping, do slap, two hands, double thumb, entre outras técnicas. O próprio instrumento vem evoluindo em sua concepção : temos o baixo de quatro, cinco e seis cordas, o baixolão, o fretless, e ainda numa concepção de vanguarda os baixos de sete, oito, nove, dez, onze e doze cordas. Sem esquecer do primogênito da orquestra. Nesta versão de carinhoso temos o Zéli chorando baixo.

Diego Figueiredo - Stella by Starlight


Na minha apreciação, é um dos mais competentes, técnica absurda, um fraseado original, harmonia arrojada, está na linhagem dos grandes violonistas brasileiros e dos grandes improvisadores do planeta.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

rosário lírico de maria


Dedicado à Mãe Divina em quaisquer de seus nomes.
Aulas, shows, gravações e produção musical no Rio de Janeiro.

Hermeto Music is my Religion


Mestre Hermeto Pascoal. O que ele fala está de acordo com a milenar escritura hindu Bhagavad - gita.

meu bem querer

Choro negro

Gaitaria


Pétala do Djavan, Luiz Fernando Mazzei no violão, Guilherme Lessa Gonçalves na gaita, que está um pouco desfinada, essa é uma desvantagem de ser multi instrumentista, às vezes fica caro a manutenção de vários instrumentos. Mas os desafinados também tem um coração.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nature Boy and others


Meu ofício de arranjador e tecladista, atualmente tenho um piano digital p88 da yamaha, e estou muito feliz pelo seu som de piano acústico, com seus outros timbres, design belíssimo, dá vontade de ficar olhando pra ele. Visitem www.myspace.com/orfeudesantacecilia

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As Eternas Rainhas da Bateria


Um samba autoral, da época que eu era ritmista da bateria da GRES Unidos de Vila Isabel. Lá aprendi a tocar vários instrumentos de percussão de escola de samba, e foi mais uma etapa da grande escola da vida.

Olinda Negra

Padim Ciço

Rosário Lírico de Maria

Mestre Hermeto

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

a noite é nua


Música autoral, devocional, guilherme lessa gonçalves compositor e guitarrista

a sagrada beleza sublime

John Petrucci e Teresa, intro de through her eyes, do dream theater.

vídeo aula de técnica : trinado, bends + tapping e bends + harmônicos

vídeo aula de pedais parte 3


Ótimas aulas para quem está iniciando no mundo dos pedais, para ter uma noção básica do som de cada efeito.

vídeo aula de pedais parte 2

vídeo aula de pedais

domingo, 10 de outubro de 2010

palhaçada


O teatro estava pegando fogo, o palhaço foi encarregado de avisar a platéia, todos acharam graça, morreram de rir, foi uma grande tragédia.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

timbres


Timbres com alguns pedais, rock n roll, aulas, shows e gravinas no Rio de Janeiro, visitem tb www.youtube.com/encruzilheira

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

guitarra eclética


Rock n roll em todas as suas denominações, samba e choro (isso mesmo, samba e choro na guitarra acústica, COM e sem pedais), mpb, bossa, samba jazz, jazz do Real Book, erudito (isso mesmo, música erudita na guitarra acústica : Villa Lobos, Bach, etc).
aulas, shows e gravações, paz profunda.

home office sweet home office


Aulas de música no Méier, Ilha do Governador e Botafogo.
guilherme.lessa@yahoo.com.br

sábado, 25 de setembro de 2010

biblioteca


Livros de referência para aulas e estudos : Ian Guets e Tomás Improta; Minha primeira conclusão é que a Harmonia é infinita, e se o violão é uma pequena orquestra, a guitarra é uma big band...

biblioteca


Ótima fonte de estudo e pesquisa, os livros de chediak estabeleceram um marco de referência para as cifras e partituras da mpb, seus songbooks são os nossos realbooks...

set up


good friends/God friends

pedais


Litlle Toys

guita

Guita

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Repertório Mpb PoP Rock

1)codinome beija flor
2)faz parte do meu show
3)por que a gente é assim (barão)
4)por enquanto
5)vento no litoral
6)pais e filhos
7)Bem que se quis
8)primeiros erros
9)me chama
10)rádio blá
11)dias de luta (ira)
12)até quando esperar (plebe rude)
13)camila (nenhum de nós)
14)paixão (cleiton e cledir)
15)vento solar (venturini)
16)a francesa (marina)
17)fullgás (marina)
18)vem chegando o verão (marina)
19)cara valente
20)bandolins (oswaldo montenegro)
21)meu erro
22)lanterna dos afogados
23)por quase um segundo
24)refrão de bolero (engenheiros do hawaí)
25)folhetim (chico buarque)
26)trocando em miúdos (chico buarque)
27)valsinha (chico buarque)
28)a rita (chico buarque)
29)não quero dinheiro
30)você
31)azul da cor do mar
32)vapor barato
33)pétala
34)meu bem querer
35)oceano
36)samurai
37)flor de lis
38)se eu quiser falar com deus (gilberto gil)
39)romaria
40)rosa morena (dorival caymi)
41)maracangalha (dorival caymi)
42)O tempo não para (cazuza)
43)devolva-me (adriana calcanhoto)
44)ovelha negra (rita lee)
45)mania de vc (rita lee)
46)olhos coloridos (sandra de sá)

Set Up de Baixo

Trabalho com aulas, shows e gravações usando três instrumentos : um baixo elétrico 5 cordas, um baixolão tb de 5 cordas e um fretless de 4 cordas, um ampli de 40w para aulas, estudos e shows de pequeno porte, e um carro velho para carregar tudo isso.

Repertório Rock ´n Roll

1)Europa (Santana)
2)Bad love (Eric Clapton)
3)Cocaine (Eric Clapton)
4)Sunshine of your love (Cream)
5)Day Tripper (Beatles)
6)Mob Dick (Led Zeppelin)
7)Rock ´roll (Led Zeppelin)
8)Paranoid (Black Sabbath)
9)War Pigs (Black Sabbath)
10)Born to be wild (Stephen Wolf)
11)All Along the Watchtower (Hendrix)
12)Purple Haze (Hendrix)
13)Red House (Hendrix)
14)Hey Joe (Hendrix)
15)Voodoo Child (Hendrix)
16)Smoke on the water (Deep Purple)
17)Come Together (Beatles)
18)Sweet child o mine (Guns and Roses)
19)Toxi city (System of a down)
20)Creep (Radiohead)
21)More than words (Extreme)
22)Show must go on (Queen)
23)Love of my life (Queen)
24)Still loving you (Scorpions)
25)Owner of a lonely heart (yes)
26)Every rose has its thorn (Poison)
27)Have you ever see the rain (creedence clearwater revival)
28)suzie Q (creedence clearwater revival)
29)Beat it (Michael jackson)
30)Billie Jean (Michael Jackson)
31)Satisfaction (Rolling Stones)
32)Angie (Rolling Stones)
33)Jump jack flash (Rolling Stones)
34)Pride and Joy (Steve Ray Vaughan)
35)Money (Pink Floyd)

domingo, 29 de agosto de 2010

violão universal



Jazz brasileiro tocado com maestria, o tempo confirma a consagração de Tom Jobim, o violão brasileiro é universal, versátil, plural e infinito...

slow blues



Conhecimento do fraseado do blues, timbragem anasalada, sem distorção, john mayer e matt schofield são os guardiões da chama sagrada do velho blues....

slow blues



Na linhagem do hendrix e do steve ray vaughan, o som da stratocaster, o velho blues bonito de doer, sucessão discipular sem interrupção...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A sagrada beleza sublime

Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

arlequim de cezanne

arlequim de picasso

a sagrada beleza sublime

Menotti Del Picchia

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Máscaras


PERSONAGENS:
Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher

Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.

BEIJO DE ARLEQUIM

I

O crescente cintila como uma cimitarra. Lírios longos, grandes mãos
brancas estendidas para o luar, bracejam nas pontas das hastes. Uma
balaustrada. Uma bandurra. Um Arlequim. Um Pierrot E, sobre as
máscaras e os lírios, a volúpia da noite, cheia de arrepios e de aromas.


ARLEQUIM diz:

Foi assim: deslumbrava a fidalga beleza da turba nos salões da Senhora Duquesa.
Um cravo, em tom menor, numa voz quase humana, tecia o madrigal de uma antiga pavana. Eu descera ao jardim. Cheirava a heliotrópio e vi, como quem vê num vago sonho de ópio, uma loura mulher...

PIERROT

Loura?

ARLEQUIM
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira crespa,
anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o seio lhe bifurca,
pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.

PIERROT

Falaste-lhe?

ARLEQUIM

Falei...

PIERROT

E a voz?

ARLEQUIM

Vaga e fugace.
Tinha a voz de uma flor, se acaso a flor falasse...

PIERROT

E depois?

ARLEQUIM

Eu fiquei, sob a noite estrelada, decidido a ousar tudo e não ousando nada...
Vinha dela, pelo ar, espiritualizado numa onda volúpia, um cheiro de pecado...
Tinha a fascinação satânica, envolvente, que tem por um batráquio o olhar duma serpente... e fiquei, mudo e só, deslumbrado e tristonho, sentindo que era real o que eu julgava um sonho! Em redor o jardim recendia.
Umas poucas
tulipas cor de sangue, abertas como bocas, pela voz do perfume insinuavam perfídias...

Tremia de pudor a carne das orquídeas... Os lírios senhoreais, esbeltos como galgos,
abriram para o céu cinco dedos fidalgos fugindo à mão floral do cálix longo e fino.
Um repuxo cantava assim como um violino e, orquestrando pelo ar as harmonias rotas, desmanchava-se em sons, ao desfazer-se em gotas! Entre a noite e a mulher, eu trêmulo hesitava: se a noite seduzia, a mulher deslumbrava!
Dei uns passos
Ao ruído agitou-se assustada. Viu-me...

PIERROT

E ela que fez?

ARLEQUIM

Deu uma gargalhada.

PIERROT

Por que?

ARLEQUIM

Sei lá! Mulher...Talvez porque ela achasse ridículo Arlequim com ar de Lovelace...
Aconcheguei-me mais: “Deus a guarde, Senhora!”
- Obrigada. Quem és?
- “Um arlequim que a adora!”

Vinha do seio dela, entre a renda e a miçanga, um cheiro de mulher e um cheiro de cananga. Eram os olhos seus, sob a fronte alva e breve, como dois astros de ouro a arder num céu de neve. Mordia, por não rir, o lábio úmido e langue, vermelho como um corte inda vertendo sangue...E falei-lhe de amor...

PIERROT

E ela?

ARLEQUIM

Ficou calada...
Meu amor disse tudo, ela não disse nada, mas ouviu , com prazer, a frase que renova
no amor que é sempre velho, a emoção sempre nova!

PIERROT

Que lhe disseste enfim?

ARLEQUIM

O ardor do meu desejo,
a glória de arrancar dos seus lábios um beijo, a volúpia infernal dos seus olhos
devassos, o prazer de a estreitar , nervoso, nos meus braços, de sentir a lascívia heril dos seus meneios, esmagar no meu peito a carne dos seus seios!

PIERROT, assustado:

Tu ousaste demais...

ARLEQUIM, cínico:

Ingênuo! A mulher bela
adora quem lhe diz tudo o que é lindo nela. Ousa tudo, porque todo o homem enamorado se arrepende, afinal, de não ter tudo ousado.

PIERROT

E ela?

ARLEQUIM

Vinha pelo ar, dos zéfiros no adejo, um perfume de amor lascivo como um beijo, como se o mundo em flor vibrasse, quente e vivo, no erotismo triunfal de um amor coletivo!


PIERROT, fremindo:

E ela?

ARLEQUIM

Ansiando, ouviu toda essa paixão louca, levantou-se...

PIERROT

Depois?

ARLEQUIM , triunfante:

Deu-me um beijo na boca!

Um silêncio cheio de frêmito. Os lírios tremem. Pierrot
olha o crescente. Arlequim dá um passo, vê a brandura,
toma-a entre as mãos nervosas e magras e tange, distraído,
as cordas que gemem.

ARLEQUIM

Linda viola.

PIERROT, alheado:

Bom som...

ARLEQUIM

Que musicais surpresas não encerra a mudez
destas cordas retesas...

Confidencial a Pierrot:

Olha: penso, Pierrot, que não existe em suma, entre a viola e a mulher, diferença nenhuma. Questão de dedilhar, com certa audácia e calma, numa...estas cordas de aço, e na outra...as cordas d’alma!

Suavemente, exaltando-se:

O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar, como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar na síncope de um beijo!

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Eis toda a arte de amar! Eis, Pierrot fantasista, a suprema criação da minha alma de artista. Compreendes?

PIERROT, ansiado:

E a mulher?

ARLEQUIM, lugubremente:

A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade.

PIERROT

E agora? Onde ela está?

ARLEQUIM, ironicamente místico:

No meu lábio, no ardor desse beijo, que é todo um romance de amor!

Seduzido pela angústia da saudade:

No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo...
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo...
No contato desfeito e no rumor já mudo...
No prazer que passou...Nesse nada que é tudo:
O passado!... a lembrança... a saudade... o desejo...

Balbuciando:

Um jardim... Um repuxo...Uma mulher... Um beijo....


(Longo silêncio cheio de evocação e de cismas).

PIERROT, ingenuamente:

É audaciosa demais a tua história...






ARLEQUIM, ríspido:

Enfim,
um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim. Toda história de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!


O SONHO DE PIERROT


II


PIERROT

Eu também, Arlequim, nesta vida ilusória, como todos Pierrots, eu tenho uma história, vaga, talvez banal, mas triste como um cântico...

ARLEQUIM, sarcástico:

Não compreendo um Pierrot que não seja romântico, branco como o marfim, magro como um caniço, enchendo o mundo de ais, sem nunca passar disso.

PIERROT

Debochado Arlequim!
ARLEQUIM

Branco Pierrot tristonho...


PIERROT

Teu amor é lascívia!

ARLEQUIM

E o teu amor é sonho...

PIERROT

É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim. , misticismo tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....


ARLEQUIM, escarninho:

Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?

PIERROT

Não! A todos os que amam!
Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção da carícia e nunca na carícia...Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a curva do crescente, um vulto de Pierrette...

ARLEQUIM, zombeteiro:

Eterno sonhador! Tu crês que vive a esmo tudo aquilo que sai de dentro de ti mesmo. Vês, se fitas o céus, garota e seminua, Colombina sentada entre os cornos da lua...Quanta vezes não viste o seu olhar abstrato nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?

PIERROT

Essas frases cruéis, que mordem como dentes, só mostram, Arlequim, que somos diferentes. Mas minha alma, afinal, é compassiva e boa: não compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...

ARLEQUIM

Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.

PIERROT narrando:

“Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “

Uma voz, na distância, corta, argentina, a narração de Pierrot.

A VOZ

Foi um moço audaz, que vejo
no meu sonho claro e doce,
O amor que primeiro amei..
Abraçou-me: deu-me um beijo
e, depois, lento, afastou-se,
e nunca mais o encontrei.



Num ser pálido e doente
resume-se o que consiste
o segundo amor que amei.
Ele olhou-me tristemente...
Eu olhei-o muito triste...
E nunca mais o encontrei!

Esse amor deu-me o desejo
daquele beijo encontrar.
Mas nunca, reunidas, vejo,
a volúpia desse beijo,
e a tristeza desse olhar...

A voz agoniza nos ecos. Pierrot e Arlequim tendem o ouvido procurando no ar mais uma estrofe.

ARLEQUIM

Essa voz...

PIERROT

Essa voz...

ARLEQUIM

Só de ouvi-la estremeço...

PIERROT

Eu conheço essa voz!

ARLEQUIM

Essa voz eu conheço...

Um sopro de brisa arrepia as plantas.

PIERROT
Escuta...

ARLEQUIM

Escuta...


PIERROT
Ouviste?

ARLEQUIM
Um sussurro...

PIERROT

Um lamento...

ARLEQUIM

Foi o vento talvez.

PIERROT

Sim. Talvez fosse o vento.

ARLEQUIM

Conta a história, Pierrot.

Pierrot continuando:

Numa noite divina
como tu, num jardim, encontrei Colombina. Loira como um trigal e branca como a lua.

ARLEQUIM

Era loira também?

PIERROT

Tão loira como a tua...
Eu descera ao jardim quebrado de fadiga. Dançavam no salão...

ARLEQUIM, interrompendo:

... uma pavana antiga,
e notaste ao luar a cabeleira crespa...

PIERROT

... a anca em forma de lira...




ARLEQUIM

... e a cintura de vespa!

PIERROT

Mãos mimosas, liriais...

ARLEQUIM

Em minúcias te expandes!

PIERROT

Um pé muito pequeno...

ARLEQUIM

Uns olhos muito grandes!
Uma mulher igual à que encontrei na vida?

PIERROT, ofendido:

Enganas-te, Arlequim, nem mesmo parecida!
Era tal a expressão do seu olhar profundo,
que não pode existir outro igual neste mundo!
Felinamente ardia a íris verdoenga e dúbia,
como o sinistro olhar de uma pantera núbia.

Esses olhos fatais lembravam traiçoeiras
feras, armando ardis nos fojos das olheiras!
Tão vivos que, Arlequim, desvairado, os supus
duas bocas de treva e erguer brados de luz!
Tripudiavam o bem e o mal nos seus refolhos.

ARLECRIM, cismando:

Essas coisas também ardiam nos seus olhos...

PIERROT

Tive medo, Arlequim! Vendo-os, num paroxismo
eu tinha a sensação de estar sobre um abismo.
Não sei porque o olhar dessa estranha criatura
era cheio de horror...e cheio de doçura!
Eu desejava arder nessas chamas inquietas...


ARLEQUIM

Tendo o fim dos Pierrots?

PIERROT

Tendo o fim dos Poetas!
Aconcheguei-me dela, a alma vibrante louca, o coração batendo...

ARLEQUIM

E beijaste-lhe a boca.

PIERROT, cismarento:

Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios,
esse beijo que morre assim como um gemido,
sem ter a sensação brutal de ser colhido...

ARLEQUIM

E que disse a mulher?

PIERROT

Suspirou de desejo...

ARLEQUIM , mordaz:

Preferia, bem vês, que lhe desses um beijo!

PIERROT

Não. Ela olhou-me. Olhei... E vi que, comovida, sentiu que , nesse olhar, eu punha a minha vida...

Um silêncio cheio de angústias vagas.
Sob o luar claro as almas brancas dos
Lírios evocam fantasmas de emoções
mortas. Os espectros das memórias
parecem recolher, como numa urna invi-
sível, a saudade romântica de Pierrot...




ARLEQUIM, tristonho:
Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...

PIERROT

A história desse olhar é toda a minha história.

ARLEQUIM
E não a viste mais?

PIERROT

Nem sei mesmo se existe...

ARLEQUIM, contendo o riso:

É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!

Tomando-o pelo braço, confidencialmente:

Entretanto, ouve aqui, à guisa de consolo:
diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo!
Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo,
entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!

PIERROT, desconsolado:

Lamentas-me Arlequim?
ARLEQUIM

Tu não compreendeste: choro não ter colhido o beijo que perdeste.


O AMOR DE COLOMBINA


II

Uma voz que canta se aproxima.

A VOZ

Esse olhar deu-me o desejo
daquele beijo encontrar,
mas nunca , reunidas, vejo
a volúpia desse beijo
e a tristeza desse olhar!

PIERROT , extasiado:

Escutaste, Arlequim, que cantiga tão bela?

ARLEQUIM

Era dela esta voz?

PIERROT

Esta voz era dela...

Arlequim está imerso na sombra e um raio de luar ilumina
Pierrot. Entra Colombina trazendo uma braçada de flores.

COLOMBINA, vendo Pierrot:

Tu? Que fazes aqui?

PIERROT
Espero-te, divina...A sorte de um Pierrot é esperar Colombina!

COLOMBINA

Pela terra florida, olhos cheios de pranto, eu procurei-te muito...

PIERROT

E eu esperei-te tanto!

COLOMBINA

Onde estavas, Pierrot? Entre as balsas amigas, tendo no peito um sonho e no lábio cantigas, dizia a cada flor: “Mimosa flor, não viste um Pierrot muito branco...”

PIERROT

Um Pierrot muito triste...

COLOMBINA

E respondia a flor: “Sei lá... Nestas campinas passam tantos Pierrots atrás de Colombinas...” E eu seguia e indagava: “Ó regato risonho: não viste, por acaso, o Pierrot do meu sonho? “ E o regato correndo e cantando, dizia: “Coro e canto e não vejo” - e cantava e corria... Nos céus, ergendo o olhar, eu via, esguio e doente, o pálido Pierrot recurvo do crescente...
Assim te procurei, entre as balsas amigas, tendo no peito um sonho e no lábio cantigas, só porque, meu amor, uma noite, num banco, eu encontrara olhar de um triste Pierrot branco.

PIERROT

Não! Não era um olhar! Ardia nessa chama
toda a angústia interior do meu peito que te ama
Nosso corpo é tal qual uma torre fechada
onde sonha , em seu bojo, uma alma encarcerada.
Mas se o corpo é essa torre em carne e sangue erguida,
O olhar é uma janela aberta para a vida,
e, na noite de cisma, enevoada e calma,
na janela do olhar se debruça nossa alma


COLOMBINA, languidamente abraçada a Pierrot:

Olha-me assim, Pierrot... Nada mais belo existe
que um Pierrot muito branco e um olhar muito triste...
Os teus olhos, Pierrot, são lindos como um verso.
Minh’alma é uma criança, e teus olhos um berço
com cadências de vaga e, à luz do teu olhar,
tenho ânsias de dormir, para poder sonhar!
Olha-me assim, Pierrot... Os teus olhos dardejam!
São dois lábios de luz que as pupilas me beijam...
São dois lagos azuis à luz clara do luar...
São dois raios de sol prestes a agonizar...
Olha-me assim Pierrot... Goza a felicidade
de poluir com esse olhar a minha mocidade
aberta para ti como uma grande flor,
meu amor...meu amor...meu amor...

PIERROT

Meu amor!

Colombina e Pierrot abraçam-se ternamente. Há, como
um cicio de beijos, entre os canteiros dos lírios. Arlequim,
vendo-os, sai da treva e, com voz firme, chama.

ARLEQUIM

Colombina!
COLOMBINA, voltando-se assustada:

Quem é?


ARLEQUIM

Sou alguém, cuja sina foi amar, com Pierrot, a mesma
Colombina. Alguém que, num jardim, teve o sublime ensejo de beijar-te e jamais se esquecer desse beijo!

COLOMBINA, desprendendo-se de Pierrot:

Tu, querido Arlequim!

ARLEQUIM, galanteador:

Arlequim que te adora...Que te buscava há tanto e que te encontra agora.

COLOMBINA

E procurei-te em vão, mas te esperava ainda.

ARLEQUIM a Pierrot:

Ela está mais mulher...

PIERROT num êxtase:

Ai! Ela está mais linda!

ARLEQUIM, enfatuado, a Colombina:

És linda, meu amor! Nessa formas perpassa
na cadência do Ritmo, a leveza da Graça.
Teus braços musicais, curvos como perfídia,
têm a graça sensual de uma estátua de Fídias.
Não sendo inda mulher, nem sendo mais criança,
encarnas, grande viva, a Flor de Liz de França...
Sobe da anca uma curva ondulante que chega
a teu corpo plasmar como uma ânfora grega
e é teu vulto triunfal, longo, heráldico, esgalgo,
coleante como um cisne e esbelto como um galgo!

COLOMBINA, fascinada:
Lindo!

ARLEQUIM

E não disse tudo... E não disse do riso
boêmio como ébrio e claro como um guizo.
E ainda não falei dessa voz de sereia
que, quando chora, canta, e quando ri, gorjeia...

Não falei desse olhar cheio de magnetismo,
que fulge como um astro e atrai como um abismo,
e do beijo, que como uma carícia louca...
inda canta em meu lábio e inda sinto na boca!

COLOMBINA com um voz sombria de volúpia:

Fala mais, Arlequim! Tua voz quente e langue
tem lascivo sabor de pecado e de sangue.
O venenoso amor que tua boca expele,
põe-me gritos na carne e arrepios na pele!
Fala mais, Arlequim! Quando te escuto, sinto
O desejo explodir das potências do instinto,
O brado da volúpia insopitada, a fúria,
do prazer latejando em uivos de luxúria!
Fala mais, Arlequim! Diz o ardor que enlouquece
a amada que se toca e aos poucos desfalece,
e que, cega de amor, lábio exangue, olhar pasmo,
agoniza num beijo e morre num espasmo.
Fala mais, Arlequim! Do monstruoso transporte
que, resumindo a vida, anseia pela morte,
dessa angústia fatal, que é o supremo prazer
da glória de se amar, para depois morrer!

PIERROT, num soluço:

Ai de mim!...

COLOMBINA, como desperta:

Tu Pierrot!

PIERROT, num fio de voz:

Ai de mim que, tristonho, trazia
à tua vida a oferta do meu sonho...Pouca coisa, porém... Uma alma ardente e inquieta arrastando na terra um coração de poeta.
Na velha Ásia, a Jesus, em Belém, um Rei Mago, não tendo outro partiu através de
Cartago, atravessando a Síria, o Mar Morto infinito, a ruiva e adusta Líbia, o mudo e fulvo Egito, as várzeas de Gisej, o Hebron fragoso e imenso, só para lhe ofertar uns grânulos de incenso... Também vim, sonhador, pela vida, tristonho, trazer-te o meu amor no incenso do meu sonho.

COLOMBINA com ternura:

Como te amo, Pierrot...


ARLEQUIM

E a mim, cujo desejo te abriu o coração com a chave do meu beijo? A tua alma era como a Bela Adormecida: o meu beijo a acordou para a glória da vida!

CALOMBINA fascinada:

Como te amo, Arlequim!...

PIERROT

desvairado pelo ciúme, apertando-lhe os pulsos,
numa voz estrangulada:

A incerteza que esvoaça desgraça muito mais do que a própria desgraça. Escolhe entre nós dois... Bendiremos os fados sabendo o que é feliz, entre dois desgraçados!

ARLEQUIM

Dize: Queres-me bem?

PIERROT:

Fala: gostas de mim?

COLOMBINA, hesitante:

A Pierrot:

Eu amo-te , Pierrot...

A Arlequim:

... Desejo-te, Arlequim...

ARLEQUIM, soturnamente:

A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois... e dois amam só uma!..

COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão:

Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:


A Arlequim:

O teu beijo é tão quente...

A Pierrot:

O teu sonho é tão manso...

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:

PIERROT
Um sonho de Pierrot...

ARLEQUIM

E um beijo de Arlequim!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

release 2010

Desde 2005 é professor da escola de música Amor à Música (www.amoramusica.com.br), em Botafogo (RJ), ministrando aulas de violão, guitarra, baixo, bandolim, percussão e musicalização infantil.
Por aproximadamente dois anos (2007/2009), foi músico e produtor musical da Feira Ecológica e Cultural da Glória (RJ).
Produtor fonográfico independente, criador do selo Encruza, único no mundo dedicado exclusivamente ao cd demo. Por exemplo :
WWW.myspace.com/baixaria
WWW.myspace.com/encruzilheira
WWW.myspace.com/orfeudesantacecilia
WWW.myspace.com/prosperbass
WWW.myspace.com/encruza
WWW.myspace.com/guilhermelessa
WWW.myspace.com/semalarde
WWW.myspace.com/espacomaodupla
WWW.myspace.com/instrumentalbrasil01
WWW.myspace.com/duoguitarraebandolim
WWW.myspace.com/duodeguitarra
Músico multi instrumentista e compositor, atuante em inúmeros projetos, transitando desde o blues e o rock´n roll, o pop, o samba, o choro e o pagode, até a bossa nova, o jazz e a MPB.
Já se apresentou em lugares como Centro de Referência da Música Carioca (Tijuca), Cotton Club (Copacabana), Bar da Ladeira (Lapa), Recanto da Lapa (Lapa), Heavy Rock Pizzaria (Lapa), Saloon 79 (Botafogo), Lona Cultural João Bosco (Vista Alegre), Teatro Noel Rosa (UERJ), Teatro Afonso Arinos (Petrópolis), Sesc (Nova Friburgo), Expo Music (SP).
O currículo on line está disponível em http://www.amoramusica.com.br/ (clicando em bandolim ou percussão)
Fotos atualizadas estão em http://www.guilhermelessa.carbonmade.com/
Vídeos demo caseiros estão em WWW.youtube.com/encruzilheira



Os trabalhos de poesia, musicologia e crítica de arte estão nos blogs
http://transicaocivilizatoria.blogspot.com/
http://cadenciacarioca.blogspot.com/
http://carrancadelei.blogspot.com/
http://allegaia.blogspot.com/
Por necessidade existencial, vocacional e profissional, transita entre os trabalhos de multi instrumentista, compositor, arranjador, professor, pesquisador, produtor musical e fonográfico, poeta, musicólogo e crítico de arte.
Tem se dedicado aos seguintes instrumentos : violão, guitarra, baixo, bandolim, cavaquinho, violão de sete cordas, viola de dez cordas, teclado e piano, gaita (diatônica e cromática) e percussão (pandeiro, atabaques, cuíca, berimbau etc).

Contatos :
Tel : 21 86344467
Email : Guilherme.lessa@yahoo.com.br
Orkut : glessa2003@yahoo.com.br
WWW.myspace.com/encruza
www.youtube.com/encruzilheira

domingo, 4 de julho de 2010

O Som da Aura

Aspas para o mestre Hermeto Pascoal :
"(...) o som da aura é a vibração sonora da alma de cada um, refletida pela sua fala, que faz a ligação entre mente e corpo. (...) num futuro bem próximo o som da aura será um recurso muito utilizado no cinema e no teatro."
Visitem www.hermetopascoal.com.br